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terça-feira, 22 de outubro de 2013

Fisiologia dos esteróides anabólicos androgênicos

Caros leitores, segue uma revisão bibliográfica sobre a fisiologia dos esteróides anabólicos androgênicos. Espero que seja útil.

Bem, estas substâncias sintéticas, formadas a partir da testosterona ou um de seus derivados  são utilizadas na medicina há pelo menos cinco décadas e sua indicação terapêutica está associada a quadros de hipogonadismo e deficiência do metabolismo protéico. Além disso, são amplamente utilizados no meio desportivo com o objetivo de melhorar o desempenho atlético. Assim como os endógenos, também possuem tanto atividade anabólica como androgênica, sendo que a relação anabólica:androgênica varia de acordo com o tipo de substância utilizada. (Guyton, Hall, 1997).


No organismo masculino, a testosterona é o esteróide sexual endógeno mais abundante, a ponto de ser considerada o hormônio testicular fundamental. Cerca de 95% da testosterona circulante é secretada pelos testículos e apenas 5%, pelas glândulas supra-renais. A concentração de testosterona na circulação sangüínea é cerca de dez vezes maior do que a de DHT , sendo esta mais potente do que a própria testosteron. Na mulher, estes hormônios também são produzidos, entretanto em menores quantidades, pelas glândulas supra-renais.
(Guyton, Hall, 1997).

No homem, as células testiculares secretoras de testosterona são denominadas células intersticiais de Leydig e são estimuladas pelo hormônio luteinizante (LH) hipofisário. Desta forma, a quantidade de testosterona secretada aumenta aproximadamente em proporção direta à quantidade de LH disponível. A testosterona, secretada pelos testículos em resposta ao LH, exerce efeito recíproco de inibir diretamente a secreção de LH pela hipófise anterior. Porém, a maior parte dessa inibição resulta do efeito direto da testosterona sobre o hipotálamo, diminuindo a secreção do hormônio liberador de gonadotropinas (GnRH). Isso, por sua vez, causa diminuição correspondente da secreção de LH e de hormônio folículo-estimulante (FSH) pela hipófise anterior. Toda vez que a secreção de testosterona está alta, esse efeito automático de retroalimentação negativa, operando através do hipotálamo e da hipófise anterior, reduz a secreção de testosterona para o nível desejado.(Guyton, Hall, 1997).

Por outro lado, quando há baixas concentrações plasmáticas de testosterona, o hipotálamo é estimulado a secretar maior quantidade de GnRH, com aumento correspondente na secreção de LH e de FSH, e conseqüente aumento da secreção testicular de testosterona. O FSH, secretado pela hipófise anterior, liga-se a receptores específicos de FSH nas células de Sertoli dos túbulos seminíferos. Essa ligação determina o crescimento das células de Sertoli, que passam a secretar várias substâncias espermatogênicas. Simultaneamente a testosterona e a DHT, ao se difundirem das células de Leydig testiculares para o interior dos túbulos seminíferos, também exercem efeito trófico sobre a espermatogênese. Por conseguinte, para iniciar a espermatogênese, tanto o FSH quanto a testosterona são necessários. (Stimac et al., 2002).
 
A testosterona e seus derivados circulam livremente na corrente sangüínea ou ligados a uma proteína plasmática. Quando atingem a célula-alvo desligam-se da proteína transportadora e, devido à sua característica lipossolúvel, atravessam com relativa facilidade a bicamada lipídica da membrana plasmática. No citoplasma da célula, interagem com um receptor específico, formando um complexo hormônio-receptor com alta afinidade pelo núcleo celular.(Guyton, Hall, 1997).

O complexo hormônio-receptor atravessa a membrana nuclear e liga-se com avidez a sítios específicos da cromatina nuclear, denominados elementos de resposta a hormônios esteróides. Ocorre, então, a ativação da RNA polimerase, iniciando o processo de transcrição gênica no qual uma fita de RNA mensageiro, complementar àquela de DNA que serviu como molde, será formada. Através da participação do RNA transportador e do RNA ribossômico, a síntese protéica se desenvolve no citosol celular. As proteínas formadas podem ser estruturais, enzimas ou ainda poderão ser secretadas para serem utilizadas por outras células (Wilson, Foster, 1988). Devido a esta cascata de reações que precedem a síntese protéica, as respostas decorrentes da ação dos hormônios androgênicos apresentam um retardo característico (Guyton, Hall, 1997).

Os hormônios androgênicos são essenciais durante toda a vida do homem. Durante a fase intra-uterina, a testosterona liberada pelo feto é responsável pela diferenciação da genitália externa e interna (efeitos organizacionais).Por outro lado, na ausência da testosterona, a genitália desenvolve-se no padrão feminino. Os hormônios masculinos também atuam sobre um grande número de tecidos-alvo não reprodutivos, incluindo os ossos, tecido adiposo, músculo esquelético, cérebro, próstata, fígado e rins. Como existe maior número de receptores para a testosterona nos órgãos sexuais, as respostas androgênicas serão mais intensas do que as anabólicas nestes tecidos. Ao contrário disso, nos músculos cardíaco e esquelético as ações anabólicas serão mais evidentes. (Stimac et al., 2002)


Efeitos adversos

Os efeitos colaterais associados ao uso indiscriminado dos EAA são dose e período-dependentes. No homem, os principais efeitos adversos são: atrofia do tecido testicular, causando infertilidade e impotência, tumores de próstata, ginecomastia, devido à maior quantidade de hormônio androgênico convertido a estrogênio, pela ação da aromatase; dificuldade ou dor para urinar e hipertrofia prostática. Na mulher, manifesta-se a masculinização, evidenciada pelo engrossamento de voz e crescimento de pêlos no corpo no padrão de distribuição masculino; irregularidade menstrual e aumento do clitóris (Wu, 1997). 

Outras alterações, comuns a ambos os sexos, que também podem manifestar-se são: calvície, aparecimento de erupções acnéicas; fechamento epifisário prematuro, aumento da libido; ruptura de tendão, devido ao aumento exagerado de massa muscular sem equivalente desenvolvimento do tecido tendinoso (Johnson, 1985; Yesalis et al., 1993); alterações no metabolismo lipídico, aumentando os níveis de LDL (lipoproteína de baixa densidade) e diminuindo os de HDL (lipoproteína de alta densidade) (Kuipers et al., 1991).

Além disso, a utilização de tais substâncias está associada a um tipo de tumor de fígado, conhecido como peliose hepática, cuja evolução resulta em hemorragia neste órgão que pode ser fatal (Stimac et al., 2002).

Referências bibliográficas: (Wilson, Foster, 1988); (Guyton, Hall, 1997); (Stimac et al., 2002); (Wu, 1997); (Johnson, 1985; Yesalis et al., 1993); (Kuipers et al., 1991) e google images.


Por Thamisa Cristofeane (8º semestre de Biomedicina), e participação de Henrique Moll e Rafael Silva Brandão (5º semestre de Biomedicina).


Atenciosamente, Rafael Silva Brandão - Biomedicina - UniCesp Promove de Brasília